Literatura de Cordel: “Mantenha viva essa cultura”.

O cordelista João Firmino em seu local de trabalho. (Foto: Wallison Oliveira).

Por Wallison Oliveira

João Firmino Cabral nasceu  em primeiro de janeiro de 1940, em Itabaiana, município de Sergipe. Filho de Pedro Firmino Cabral (“cantador de feira e embolador”) e Cecília Da Conceição (“roceira”). Apesar de estar sempre ligado à agricultura, começou já na juventude a demonstrar interesse pelas letras. Comprava folhetos de “Literatura de Cordel” que usava como cartilha, pois com eles aprendeu a ler. Aos 17 anos, com o auxílio do seu mestre, o poeta Manoel D’Almeida Filho, descobriu sua vocação poética e escreveu o seu primeiro folheto, “Uma Profecia do Padre Cícero”. Daí por diante, não lhe faltou mais inspiração e toda sua produção é bem aceita pelo povo.João Firmino, é um homem de fala pausada, bem articulada e de modos calmos. Quando tinha apenas 14 anos, João começou a vender cordéis na feira, hoje quem o vê no Mercado Augusto Franco em Aracaju, acaba confundindo como apenas mais um comerciante, mas o que ele faz e vende são verdadeiras obras de arte.

Local onde João Firmino divulga seu trabalho, que diz ser mais reconhecido por turistas. (Foto: Wallison Oliveira

 A banca que o cordelista ocupa é uma doação da prefeitura de Aracaju, a qual abre todos os dias onde ele expõe suas obras, passa o dia em um banco de madeira vendendo, e escrevendo outros versos. O cordelista lamenta o fato de os serg ipanos não valorizarem muito a literatura de cordel,  que é totalmente contrária às atitudes dos turistas diante dessa arte. “Hoje Sergipe está melhor do que como já foi, mas necessita de uma melhor divulgação do cordel no Estado”, explica o cordelista.

O poeta também disse que existem muitos cordelistas com nível superior: médicos, engenheiros, advogados, entre outros, e continuam escrevendo cordel com o objetivo de não deixar essa cultura morrer.

Ele lamentou o fato de a literatura de cordel não receber quase nenhum incentivo de alguns órgãos públicos, tanto por parte da Prefeitura, como pelo Governo do Estado.

Perguntando sobre o que ele acha que pode ser feito para melhorar a situação do cordel no estado, João Firmino respondeu que quando os cordelistas começarem a ter um acesso maior nas escolas, esse quadro poderá melhorar muito. Outro fator é a criação da associação dos cordelistas de Sergipe.

Com mais de duzentas obras publicadas João Firmino começou a escrever cordel ainda muito novo, “ eu tinha pouco apoio, e comecei publicando meus cordéis e livros por conta própria”, lembra Firmino.

As principais temáticas dos cordéis de João Firmino São: O cangaço, política, amor, crime, sobrenaturais, fantasias, valentias, etc.

Uma das obras principais dele é: “ Lampião: Herói ou Bandido?”, que conta a história do líder dos cangaceiros, que era considerado como um herói e bandido ao mesmo tempo. Firmino conta esse caso de uma forma muito engraçada.

“Todo mundo já ouviu

Falar sobre Lampião,

O famoso cangaceiro

Corajoso e valentão

Que na região nordeste,

Assombrou todo o sertão.

Escritores e poetas,

Do Brasil ao estrangeiro,

Já escreveram e versaram

Livros desse cangaceiro,

Que conviveu no Sertão

Do nordeste brasileiro.

Sei que foi em Pernambuco,

Nas margens do Pajeú,

Na pequena Vila Bela,

Lugar de peba e tatu,

Onde tem cabra que pega

Cascavel e come cru

Filho de José Ferreira

Um pequeno agricultor

E dona Maria Lopes,

Mulher de honra e pudor,

Um casal muito feliz,

Honesto e trabalhador…

João Firmino Cabral

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